domingo, 18 de julho de 2010

Aurora Boreal

Olhei para ti e desejei-te bom dia, de modo carinhoso.
Sem piar. Dormias, bem, recarregada por uma noite em que fizemos, juntos, uma ôde a Epicuro.
Tanto prazer até dói!
Mesmo com a naturalidade crua de um rosto amarrotado pelos vincos da almofada e sem contornos de pintura, és de uma beleza inspiradora.

Aproveitei o ar revigorante da alvorada e entreguei-me aos meus pensamentos, solitariamente satisfeito.
Não nos conhecíamos muito, mas existia entre nós uma intimidade natural de quem se descobriu noutras eras, tal a empatia e a química, portanto, não te foi estranho este meu gosto por momentos entregue a mim próprio e ao que me vai nas profundezas, sempre inquietas, ainda que empacotadas com aquela tranquilidade imaculada que tanta paz de espírito te proporciona.

Assim, fui preparar o pequeno almoço, afrodisíaco, como convinha. Apesar da longa noite de gozo, já sentia remeniscências de retoma e com elas ganas de voltar a possuir-te.
Havia que tirar proveito, pois não sabia quando nos voltaríamos a ter. Além disso, sinto-me melhor sabendo que não deste por mal empregue e que esse sorriso de orelha a orelha de contentamento te iria ficar desenhado no rosto por tempo indeterminado.

Para reanimar, uma infusão levemente refrescada, com água mineral, flores de camomila, sementes de erva doce e folhas de manjerona.
De seguida, uns croissants (do Gustavo, o mestre pasteleiro de ar fresco e caseiro, do salão de chá do largo, em frente ao parque), com geleia de flor de jasmim, sumo natural e café, o melhor nespresso, tu que te delicias com a imagem do Cloney.
Como desconfiava que algo estava para vir, acrescentei um prato com sementes de cardomo, um aromático potente afrodisíaco, umas tostas com caviar, beluga, que és atraentemente exigente, e, claro, o amanteigado das Bordaleiras Serra da Estrela, que tanto gostamos - delicioso!
Certamente que percebeste o agrado de partilhar a noite contigo.

Desci para os teus pés, apreciando o longo percurso.
Massagei-os, chupei-lhes os dedos e lambi-os, inteiros. Hum, que pés tão bem desenhados! E perfumados!
Com energias retemperadas, acabamos a ôde num andamento prestissimo e, tal como um qualquer deus do prazer, senti-me violentamente dentro de ti.
Vimos estrelas a cintilar e o sol radiante de um dia de Verão espreitou, sorridente.

Numa posição reconfortada, aprofundaste as marcas desse sorriso infinitamente satisfeito.

Até à próxima!

O Último Sonho

Esta noite tive um sonho, atrevido.
Dizia a uma das mulheres mais bonitas da terra, de curvas voluptuosas, inteligente e bem na vida, mas mal amada e doutras carências nada confortáveis:

"Silêncios não ouvirás.
Ouvirás as entranhas a chamar por mim, latejantes de desejo, ávidas de falo viril, alienadas de tesão!
Quanto tempo mais aguentarás esse estado por saciar?
Insatisfeitas, a tua alma curiosa e a tua carne têm vontade de aventura, de descoberta, de sensações arrepiantes.
Vem! Não te domines por receios! Dominada serás por mim, verás que bem!
Esses teus receios esmorecem ao primeiro beijo francês, bem molhado, com sabor a hortelã. Àquela forma de te possuir, de te lamber a passarinha, de te tocar a pele dos pés à cabeça, de te explorar caminhos menos visitados, quiçá virgens, entre outros xaropes das mil e uma noites...
Só nós dois - pelo menos desta vez - acompanhados pelo crepitar do fogo do deleite, entre conversas em forma de sussurros ardentes e copos de vinho tinto.
Mas não é para todas.
Só para mulheres privilegiadas, como tu."

Dei-lhe um beijo humedecido no pescoço, daqueles que a vestem com pele de galinha. Seria o prólogo de tudo o que lhe havia dito, provocado, prometido.
Mas eis que o sonho acaba e os olhos se abrem. Não me parece bem, acabar antes de começar. Também não é importante, não passa de um sonho, posso acabá-lo como bem me apetecer, sonhando acordado.
Na vida real pode não ser tão linear. Ou sim.
O sexo anda dissimulado, mas é provável que aconteça.

Um beijo raro,
Do teu Afonso.

Quarto Crescente

Romântica Lua,

Crio este blogue para que as conversas contigo sejam um deleite, Musa Inspiradora.
Conversas banais ou espirituosas, eventualmente lascivas, luxuriantes! Relações cúmplices, amigas, amantes. Leves ou duradouras: como queiras, a diversidade atrai-me.
Ao som do Bolero e com sabor a mar. E com tantras de Kama Sutra.

Entretanto, se ouvires silêncios pousarem na janela, estou à tua disposição. Presente para fazer tua a minha mão, ser a tua companhia e que tu sejas a minha.

Fica com um beijo que não passe,
Afonso Maria.